quarta-feira, 24 de junho de 2015

A internet esclarecida, e o fim da identidade como valor positivo

"A internet promove a falsidade"

Não. Ela a amplifica. A falsidade não é um ato, é um fato. Não é comunicar uma inverdade, mas desejar a inverdade. E só é possível desejar a inverdade quando a verdade não representa nossos desejos. Assim foi o século XX, esse século de falsificação de massas. Do totalitarismo ao consumismo, do neocolonialismo aos blocos econômicos, do comunismo à globalização, foram forjados valores que falsificavam sua universalidade. A universalidade, um dos grandes temas da modernidade, foi uma mentira suja de cem anos de duração.



Dizer que a internet criou essa mentira é estar cego às bases de nossa sociedade. Ela sempre existiu: na medida em que a comunicação de massas permitiu a falsificação, a identidade pessoal tornou-se um transmissor de idéias, e não de verdades num sentido naturalista. Che Guevara não é uma pessoa. Marilyn Monroe não é uma pessoa. A foto de perfil não é uma pessoa. Quando a comunicação passou a ser impessoal, o emissor fundiu-se à mensagem. Mas quanto mais impessoal se torna a comunicação, mais esse emissor é mastigado pelas engrenagens do sentido.

E a internet está matando o emissor. Matando a identidade. Matando os próprios preconceitos que nos levaram um dia a achar que a verdade estava em sujeitos. Se a internet por um lado amplia e veicula os velhos meios, por outro ela os torna extremamente desconfortáveis. A internet primitiva, aquela que imita a alienação de massas antes vigente, alimenta nosso pessimismo informático. Mas a internet esclarecida, a internet sem líderes, sem bibliografia e inconstante por excelência, ensina cada vez mais que a veracidade e a falsidade estão nos predicados. E não há uma gota de exagero em dizer que essa lição está entre as mais importantes que a humanidade, como entidade una, já aprendeu.

Resta saber, apenas, quanto poder essa comuna anarquista global terá sobre sua comunidade. O quanto a internet mudará a alienação das massas, e o quanto a alienação das massas limitará a internet. Por enquanto, mantenho-me irremediavelmente otimista.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sobre oi e tchau

A função fática, a função do "oi", do "tudo bem?", e de mais um monte de palavras que servem para, digamos, lubrificar as conversas. Está presente em quase todas as culturas e, apesar de parecer inútil, é uma alternativa fácil e rápida para chamar atenção, se nada mais.
O português, porém, especificamente o português falado e informal das ruas do sudeste, está com problemas na função fática. Isso porque há um abismo sendo criado e avançando entre o formal e o informal, e estamos sofrendo para preenchê-lo.
A idéia me ocorreu no ônibus lotado. Um passageiro pediu para o cobrador passar o bilhete dele, porque ele ia descer pela frente. O cobrador concordou, e o sujeito lançou-lhe algo que me intrigou: "valeubrigado".
Valeubrigado. O rumo desesperado de nossa língua em face a um abismo na formalidade. "Valeu", de fato, não é muito apropriado para agradecer uma pessoa que você não conhece. É coisa de amigos, pressupõe uma certa intimidade. "Obrigado", por outro lado, pertence a atendentes de telemarketing e cartas institucionais. O cobrador de ônibus que você nunca viu fica no fundo do abismo, e não há boa solução.
Como infelizmente você não pode criar uma palavra nova e esperar que todo mundo entenda, a única solução possível é pegar a palavra formal demais e a informal demais, somar e dividir por dois, na esperança de que todo mundo entenda sua intenção.
Se alguém ainda não se identificou, preste atenção, e algum dia vai se deparar com uma conversa telefônica terminando assim:
-Falou
-Falou
-Tchau
-Tchau
Isso porque "tchau", justamente por ser uma despedida, tornou-se, para o brasileiro coração-mole, uma coisa meio pesada para se dizer abruptamente. O "falou", porém, é mais jovem e não tão culpado do crime terrível de encerrar um diálogo. Assim como o nosso amigo do valeubrigado, misturamos o formal e o informal para criar um pouso suave em uma situação em que nenhum deles sozinho serve. Isso porque às vezes, se houve algum favor prometido ou cumprido na ligação, precisamos de outra linha de decoro:
-Obrigado
-De nada
-Falou
-Falou
-Tchau
-Tchau
Ainda vou ver essa conversa aí em cima, só que com valeubrigado em vez de obrigado. Imagina? Quatro expressões só para terminar uma conversa.
Na fala, o "oi" também não escapa. Ficou pra tio, literalmente. Em vez dele usamos o "e ai?". Só que na verdade "e ai?" não parece o tipo de coisa que substitui "oi". Parece, na verdade, que ele foi pensado para ser a resposta.
-Oi, tudo bem?
-Tudo, e ai?
Mas em algum momento a salada aconteceu e ele entrou como a primeira coisa que você diz. "e ai? Tudo bem?". Eu não sou chato com o português, juro, mas acho que tem alguma coisa muito errada em começar um diálogo com uma conjunção.
Outro problema com o "e ai?" substituir o "oi" é um problema mais sério ainda, e que quebra muito a nossa cabeça: "e ai?" é uma pergunta. Muita gente simplesmente te cumprimenta com "e ai?", e nesse momento você sente que precisa responder a pergunta, mas ao invés disso é compelido a perguntar a mesma coisa: "e ai?", e ambos ficam satisfeitos com a certeza de que uma pergunta respondeu a outra pergunta, que não era uma pergunta pra começo de conversa, e fica um certo desconforto com o que parece ter sido um papo de sábio chinês.
Talvez essa situação esteja mais confortável para as pessoas em geral do que para mim, mas eu acho que não. Acho que estamos procurando palavras para um significado que ainda não temos, e dando um jeitinho brasileiro quando não encontramos. Será que essa bomba vai explodir? Uma nova classe de palavras mais versáteis surgirá para se adaptar a essas situações? Ou será que continuaremos fazendo remendo atrás de remendo até que todos os encontros entre pessoas se tornem constrangedores pela falta do que falar? Só resta esperar para saber.
Valeubrigado pela leitura! Falou, tchau.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Sobre minha amizade

A amizade
É apenas o nome
De algo-mais entre duas pessoas

Existem, por isso, tantas amizades
Quanto motivos para duas pessoas se encontrarem

Por que você é meu amigo?

Se é porque temos as mesmas opiniões
Pensamos em fase
E concordamos em (quase) tudo
Afaste-se

Não quero uma amizade que seja sintoma de covardia
Não quero criar uma pequena tribo para me justificar
A paz me é venenosa
Porque não se dissocia (por mais que tente - e tenta)
Da complacência
Não me deixe, amigo
Ser apenas quem eu sou
Caso contrário, você é um adereço

Se é porque quer algo de mim
Pergunte-me agora
Não hesite, pergunte-me agora
"Você quer algo de mim em troca?"
Se eu disser não, você está me explorando
Continue meu amigo, se quiser, mas com essa consciência
Se eu disser sim, abandone os moralismos
Que a amizade não precisa ser altruísta
E continue meu amigo
Que estamos ambos ganhando
E não há porque não continuarmos ganhando

Se é porque me admira, aprende comigo
Pode ser meu amigo, sempre
Mas tente ensinar também
Não tenha vergonha, não esconda suas críticas
Não pareça concordar demais comigo
Senão se tornará complacente e desinteressante
Ensine-me
As vezes com brutalidade
E eu gostarei mais de você

Se é simplesmente porque lhe agrada minha companhia
Eu lhe divirto, lhe entretenho
Fique confortável
Que se eu me divertir com você, seremos amigos
Senão, eu me afastarei, com respeito

Talvez, moça, eu me apaixone por você
Talvez eu queira transar com você
Isso recai em "eu quero algo de você"
Se quiser algo de mim, transaremos
E isso não implica em nada, não é nem será imperativo
E se não quiser nada de mim, me avise
E eu continuarei seu amigo enquanto houverem outros motivos
Dos aqui descritos para sermos amigos

Namoro é, para mim, uma questão de intensidade
Namorada é uma amiga com mais força de amizade
E nada mais
Se quiser namorar comigo
Esteja pronta para me libertar
E ser livre, como dois amigos são

Não perca tempo com "para sempre"s
Vamos ser sinceros
Por mais profunda que uma amizade seja
Ela é, no fundo, conveniência
Ela tem um motivo dinâmico
Talvez sejamos amigos para sempre
Mas não há porque puxar o imperativo sem razão

Não espere muitas demonstrações de afeto
Talvez hajam, mas é provável que não
Se eu disser "eu te amo" uma vez
Dispenso repetir
Você já sabe, e não se esqueça

Não me cobre presença
Não precisa me dar também
Que nos encontremos porque queremos
E não porque "devemos"
Em nome de um imperativo forjado
Não deixe nossa amizade se desgastar com o tempo
Dias, meses, anos... Querendo e podendo, me procure
Continuaremos de onde paramos

Me avise se o papo-cabeça lhe entedia
Eu sei falar de pouca coisa leve
Minhas palavras são sempre pesadas
Não se culpe, não se force
E se você não gostar de falar sobre o que é importante
Afaste-se de mim, que serei um remédio amargo
Que aliás, eu acho que você que se omite
Deveria tomar

Se brigarmos
Não guarde uma gota de rancor
Que eu não guardarei também

Se não gostar de algo que eu fiz ou faço
Me diga na hora, sem delongas
Sem eufemismos, mas sem violência na voz
Aprecie discussões longas, pesadas e discordantes
Elas me fazem gostar mais de você
Especialmente se eu aprender algo com elas
E normalmente aprendo
Não me venha com "você não vai mudar sua opinião, eu não vou mudar a minha"
Eu sempre mudo, pouco ou muito, minha opinião
Depois de uma longa e intensa discussão
Não deixe de fazer o mesmo
É o único propósito de discutir

Se não tiver mais motivo para estar comigo
Afaste-se sem medo, sem dó
Me avise, se puder, mas afaste-se
E não me deixe te convencer a ficar

E não me odeie
Me ignore, mas não me odeie
O ódio não é consequência de trauma
É sua causa
Eu, como você
E como todos nós
Tive motivos para fazer tudo o que fiz
E bons ou ruins, fizeram sentido para mim
Isso não é motivo para complacência
Mas também não é motivo para ódio
Acredite nisso
E saiba que eu nunca vou te odiar

Por fim, se você não é meu amigo
E quiser se aproximar
Jogue fora as regras da cordialidade
E venha me conhecer
Meu diálogo é forte e específico, prepare-se
Não vou poupar verdades de desconhecidos
Respeito sua intimidade
Mas eu não tenho nenhuma
Não tenho segredos
Então pergunte, e ouça a verdade
Se ela lhe for dura, lide de uma vez, ou se afaste
Que é tudo o que você vai ter

Viva a amizade, meus amigos. A amizade sem demagogia e sem imperativos decadentes e forçados. A amizade que une duas pessoas por nada mais, nada menos do que elas quererem estar juntas.

domingo, 30 de março de 2014

As três-para-quatro formas de ser contra algo

      A "nova classe média" brasileira adora ser contra as coisas. Falo por experiência, como membro dela. Eu ainda pretendo escrever um artigo bem longo sobre como a contingência e a relevância estão sendo varridas da nossa visão política. Por hora, vou tentar não tocar no assunto, senão vou me perder nele.
      Apesar disso, ser contra é inevitável. Quando somos a favor de algo, somos contra sua negação. A questão é que, como seres pensantes, queremos ser também seres avaliantes: julgar algo em sua essência e colocar em uma caixinha que diz "certo" ou em outra que diz "errado". Infelizmente, nem sempre é tão simples, e maus avaliadores, ao perceberem isso, forçam a caixinha, não querendo adaptar seu "certo" aos argumentos contrários.
      Uma questão fundamental é que as pessoas querem ser contra algo. É como a fé trabalha: parcialmente. E isso leva, frequentemente, ao que eu considero a falacia lógica mais comum na política brasileira: O ignoratio elenchi
      Ignoratio elenchi
significa ignorar uma refutação. Quando eu acredito em A e alguém diz B, raramente eu tento contextualizar B, eu simplesmente respondo "A!". Se a pessoa contesta meu A com um C, eu digo "mas D é inquestionável!", sendo que a questão não pode ser resolvida só com A e D. Poucas vezes explicamos porque o que o outro disse está errado, normalmente apresentamos outras evidências de nosso argumento, sem querer chegar a uma conclusão que não seja a nossa conclusão, que é produzida exclusivamente pelos nossos argumentos.
      Essa falácia é causada por não entendermos que há mais a uma discussão do que ser contra algo, como "sou contra o Lula" ou "sou contra o PSDB". Não faz sentido dizer simplesmente isso.

      Ser contra é ser contra um verbo: o processo político exige que votemos. E em votar, está rejeitar pessoas. Rejeitar uma pessoa, porém, não é ser contra ela, porque a pessoa, na política, é uma referência ao que ela representa. Se um grande líder muda de posição política, devemos mudar nossos favoritismos também. E raramente mudamos. Queremos ser contra O Lula, e assim somos contra tudo o que ele faz antes mesmo de fazer. As vezes somos contra 90% do que um faz, e assim tendemos a ser contra os outros 10%, mesmo que sejam coisas das quais seriamos a favor se outros fizessem.

      Assim, geralmente quando há um ato, como "as manifestações de 2013", "mulheres mostrando os peitos em protestos feministas" ou "A implantação de uma ditadura militar", existem duas políticas pelas quais podemos considerar o ato: o ato em si e as consequências que ele pretende. As manifestações de 2013 envolviam "o ato de se manifestar" e "as diversas propostas apresentadas", os protestos feministas envolvem "o ato de mostrar-se de topless" e "as mudanças sociais que se pretende atingir com o ato", a implantação de uma ditadura envolve "o ato de estabelecer um sistema político não-democrático" e "as consequências de se viver em uma ditadura, e suas propostas"

      Ser contra um ato é ser contra o direito de realizá-lo. Não necessariamente o direito legal, mas um direito moral. O bullying não deve ser caso de justiça, mas o ato não deve ser tolerado. Essencialmente ser contra um ato é considerar que devem haver medidas para evitá-lo.
      Ser contra as consequências pretendidas de um ato é algo com o que devemos tomar mais cuidado. Ser contra o ato é ser contra as consequências reais desse ato, quaisquer que sejam. As consequências pretendidas, porém, frequentemente são outras. Raramente lembramos do fato de que a maioria das coisas são feitas com bons resultados em mente. Em assassinar duas milhões de pessoas, o regime do Khmerr Vermelho tinha como consequências pretendidas preservar a tradição cultural do Camboja. As consequências reais foram um genocídio, e a deposição do Khmerr com intervenção internacional. Podemos, porém, ser a favor de preservar tradições culturais sem precisarmos ser a favor de matar qualquer um que não faça isso. Nesse quesito, "ser contra o Khmerr Vermelho" se torna algo mais complexo.


      Assim, existem três-para-quatro combinações de "a favor" e "contra" para cada ato.

      1) Ser contra o direito de fazê-lo: implica em deslegitimar o ato como um todo. Não implica necessariamente em discordar com as consequências pretendidas, mas significa discordar com as consequências reais (ou o que você acha que são as consequências reais) do ato. É o "achar errado", o reprimir. Aqui se encaixam os crimes e falhas de caráter, embora exatamente quais seja subjetivo, afinal não discordamos todos das mesmas coisas

      2) Ser a favor do ato, mas contra suas consequências pretendidas: isso pode parecer estranho, mas podemos reconhecer que algumas vezes os atos pretendem consequências ruins, mas causam consequências boas. Embora, por exemplo, uma revolta tenha revindicações absurdas, ela pode ser vantajosa por movimentar interesse político e debates sobre essas propostas. Essa é uma possibilidade que raramente consideramos quando somos maus avaliadores: a possibilidade de algo produzir bons resultados que não são os resultados que pretende produzir. Quando odiamos a ideologia, tendemos a prever resultados catastróficos caso seja aplicada. Mas nem sempre é o caso.

      3) Ser a favor das propostas, mas considerar que o ato não é uma forma de atingi-las: a um bom avaliador, esta é a resposta mais comum. Todos temos noções comuns sobre o que é bom e o que é ruim, mas raramente concordamos quanto às formas de se chegar lá. É o contrário da 2: somos a favor das consequências pretendidas e contra as consequências reais. É importante identificar primeiro quando discordamos com relação às consequências pretendidas, porque isso da um outro nível à discussão. Uma coisa é discutir alternativas, outra é discutir ideologias, e em cada discussão você precisa saber o que está sendo discutido.

 
   4) Ser a favor do ato e de suas propostas, mas considerá-lo uma forma ineficiente ou complicada de realizá-las: o motivo do três-para-quatro é que é controverso se isto ainda é "ser contra". Como engenheiro, eu descarto uma alternativa ineficaz com a mesma rapidez com que descarto uma alternativa impossível, mas não posso negar que há uma diferença fundamental entre elas. Essencialmente é importante saber que nada está isento dessa discussão, por mais que sejamos a favor do ato e de suas consequências, é sempre importante perguntar "essa é a melhor maneira de fazer isso?" as vezes, por mais nobre que seja, não será. Essa é minha opinião sobre as manifestações de 2013. Fui a favor do ato, e de parte das revindicações (por mais vagas que tenham sido, poucas eram absurdas), mas acho o ato de se manifestar em grandes grupos e sem pauta uma forma vaga de chegar a essas resoluções, ou de politizar um povo.

      Discutir um ato político envolve determinar onde há discordância entre as partes, e resolvê-las localizadas. Não adianta discutir a proposta de um grupo se você está considerando a legitimidade do ato, e não adianta falar mal ou bem do ato se seu desgosto é com o que está proposto. E é engraçado ver como o ignoratio elenchi sempre acontece flutuando entre um e outro. Se o argumento é a favor da proposta, refutam atacando o partido, se o argumento é a favor partido, refutam expondo a proposta. Segure suas minúcias e boas discussões! Lembre-se: é mais importante estar certo depois da discussão do que antes dela.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Algum dia...

    "O que você quer?"
    Essa é a pergunta mais importante do mundo. Sem exageros. De todas, todas as perguntas, essa é a mais importante. E até nos fazemos essa pergunta as vezes, mas não com muita frequência ou com um enfoque no futuro. A pergunta normalmente vem como "O que você quer fazer agora?" ou "O que você quer hoje?". Essas perguntas também são as mais importantes do mundo, mas lhes faltam as companheiras. "O que você quer na vida?". E quando nos perguntamos "O que eu quero na vida?", não relacionamos a pergunta com as milhares de "O que você quer hoje?" que nos fizemos, e vice-versa.

    A maioria de nós tem preguiça dessa pergunta, mas realmente ela é a mais importante dentro de um ambiente. Faz algum sentido fazer algo sem saber se você quer? Somos mau educados (com 'u' mesmo) a fazermos escolhas sem pensar "O que eu quero na vida? Isso que estou escolhendo tem a ver com o que eu quero?". Começamos a vida na escola, um lugar do qual queremos vorazmente fugir, mas ao qual vamos todo dia mesmo assim. E tem gente que foge mesmo. Alguns porque realmente se perguntaram o que queriam, e concluiram que não era uma vida de cultura, mas muitos fugiram sem se perguntar o que queriam na vida, mas se perguntando "O que eu quero agora?". E aí entra uma noção de prioridades: uma escada de quereres.





    Por mim, comer um salgado na cantina é algo que devemos frequentemente confrontar com "Isso está certo na minha vida?". Mas como avaliar se comer um salgado muda sua vida para melhor ou para pior? É exatamente isso que nos falta: a capacidade de expandir os efeitos de algo, independente da sua intensidade, para os interesses de uma vida. Voltando ao salgado, acho que a maioria das pessoas poderia seguir por um caminho bem semelhante: o prazer de degustar um salgado e matar sua fome versus suas expectativas de saúde e longevidade.

    Salgado é gostoso. Salgado é calórico. Se você tem uma adoração profunda por salgados, se eles lhe trazem um prazer genuíno quando você consome, que supera mil vezes a dor de não tê-lo quando você não pode, o lado 'gostoso' pesa mais. Se você não gosta muito, ou gosta mas tem compulsão, ou vício, e passa mais sofrimento querendo o salgado do que prazer comendo, o lado 'gostoso' pesa menos. Se você tem problemas de saúde, é sedentário, está acima do peso, e não faz refeições saudáveis, o lado 'saudável' pesa mais. Se você faz exercícios diariamente, faz refeições leves e está comendo aquele salgado esporadicamente, o lado 'saudável' pesa menos.

    Mas não podemos fazer a pesagem ainda, porque precisamos nos aprofundar. Sempre precisamos nos aprofundar. O quanto é importante para sua vida o prazer hedonista de comer? E o quanto é importante a longevidade, a saúde, a integridade do corpo? Cada lado da balança será ponderado pelo quanto ele é importante para sua vida. E é aí que você, que lê este texto, com certeza está pensando "todo esse esforço por um salgado?". Porque pensar no quanto as coisas são importantes para a sua vida é um esforço. E é um esforço porque você ainda não ganhou um know-how nisso.

    Eu posso fazer uma rápida revisão dos conceitos de toda a minha vida sem esforço em dois segundos (normalmente eu levo uns cinco, para garantir), porque já sei, por experiência, o quanto cada coisa é importante para mim.
    Sei que o propósito da minha vida é ser feliz, com um misto de desapego e satisfação de prazeres mundanos e elevados sem preconceitos ou distinções, e na medida em que minha disposição me permitir, ajudar as pessoas a pensarem de modos diferenciados, fazendo um pequeno entalhe em uma sociedade mais reflexiva, tolerante e, acima de tudo, satisfeita.
    Eu enunciei este último parágrafo para mim mesmo há quase nove anos, e, com pequenas paráfrases e mudanças, eu consigo sentir sua relevância nos diversos aspectos da minha vida em uma fração de segundo. Eu não preciso pensar tudo isso, já está estabelecido. A pergunta "O que você quer?" opera e se responde sozinha, em uma velocidade tal que posso, com muita certidão, basear a escolha de comer um salgado em toda a minha experiência de vida. Claro que as vezes (ou frequentemente) ela falha, e aí surge um Guilherme com defeitos. Mas posso dizer que minha vida mudou vorazmente depois que eu comecei a pensar quase todo dia no que eu quero fazer antes de morrer, e em como isso influencia o que vou fazer agora.


    Meu prazer não depende muito de disposição física... Não faço questão de longevidade... O lado "saudável" fica fraco. Não faço questão de boas aparências, mesmo que isso prejudique ligeiramente minha carreira... A aparência do gordo não me apela mal. Sou apaixonado por comer, tenho uma disposição ímpar para comer e ficar muito, muito feliz com isso... O lado "gostoso" fica forte. Guilherme compra e come o salgado.

    (Nota: estou comendo enquanto escrevo esta linha)

    Naturalmente, quanto mais rápida tem que ser a decisão, mais simples a análise. Alias, por isso temos instintos: para garantir que não precisemos lembrar que sobreviver é bom na hora de sair correndo de uma jaguatirica assassina.

    A longo prazo, porém, a atuação dos instintos fica mais fraca, e nossa razão pode contrariá-los. O instinto não impedia o seppuku dos samurais, porque eles reviam toda a sua honra, seu bushido, antes de fazê-lo, e concluíam que era isso que queriam.

    E a prazos mais longos ainda... A liberdade se torna muito forte. E também o querer. Nosso querer é mais profundo quanto mais longe olhamos. Por isso resoluções de ano novo são tão profundas, elas tem um tempo relativamente longo em vista. Religiões frequentemente dão olhos à eternidade, e por isso são tidas como as coisas mais importantes e profundas de uma vida... Mas as vezes nos esquecemos de que as ações do dia a dia, o ônibus que pegamos, o salgado que comemos, a escola que frequentamos, são cada um uma pequena parte desses propósitos maiores. Só vamos cumprir nossas resoluções de ano novo se lembrarmos delas a cada dia (por isso mesmo eu coloquei minhas resoluções de ano novo no desktop, para estar diariamente pensando nelas). E assim devemos sempre nos conectar com nossos objetivos distantes, todos os dias.

    Eu tenho certeza que isso soa perturbador e exaustivo para muita gente, mas isso é culpa dos seus objetivos de longo-prazo. Se vamos pensar neles todos os dias, eles tem que refletir o que somos no dia a dia. Não adianta mesmo só ter objetivos nobres, altuístas e construtivos. Isso eu descobri em uma crise existencial ao longo de 2012-2013, e por isso meu primeiro objetivo para 2014 é, com essas palavras, "me divertir pra caramba". Eu sei que, no dia a dia, me divertir é importante, até mais importante do que fazer bem ao mundo, então eu levo isso em conta. É o que quero. E os meus objetivos de curto prazo são realizados todo dia, como de todo mundo, mas os de longo prazo estão sempre em vista e atividade também.

    Esse bom entendimento é uma das coisas que pode nos tirar o medo da morte, do qual falarei em um outro post muito bombástico, algum dia...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Menos justiça e mais vida

       Há algum tempo, circulou pela internet um vídeo de um policial matando um ladrão. Fiquei impressionado. Não com o vídeo, acontece, e não tenho pena do ladrão. Mas eu esperava outra resposta das pessoas que também o viram. Coisas como "Merecido, tinha que fazer isso com todos", ou "Bandido bom é bandido morto" superaram muito em quantidade os comentários de não-violência.
       Antes que me perguntem, não, não tenho pena do ladrão, como eu fiz questão de dizer. Não tenho pena de ninguém, acho que cada um de nós tem sua pena, e Anúbis que cuide dela quando morrermos. O que eu tenho é a sensação de que nos beneficiaríamos muito de rever nossos conceitos de justiça.

       Imagine duas pessoas. Uma delas é má, terrível, absolutamente cruel e deseja o sofrimento de todos. Outra é um mártir benfeitor, um Jesus, um Buda, alguém capaz da mais pura e sincera bondade. Suponha que essas sejam as únicas duas pessoas do mundo. Qual é a melhor situação?

        (1) O mau vive infeliz, e o bom vive feliz
        (2) Ambos vivem felizes

        É aqui que entram noções conflitantes de justiça, noções estas muito fundamentais.

        (1) Justiça como causalidade: que cada um tenha o que merece, por sua natureza e suas intenções
        (2) Justiça como Bem: que cada um tenha todo o bem que puder

        É claro que meu exemplo não é social, pois duas pessoas não são uma sociedade, mas ele alude à justiça como algo fundamental. Se você prefere a justiça do tipo (1), devo reconhecer a coerência em que você defenda a pena de morte. Apesar disso, peço seu respeito, como alguém que acha, e sempre achará, que o ideal é que todos sejam felizes.


        Vamos então ampliar o exemplo para uma sociedade. Numa sociedade não é tão simples, pois nem todos os "bons" são Samaritanos, que não se incomodariam com a atuação dos maus. Há violência, roubo, prejuízo às partes inocentes. Esses são os nossos inimigos, mas não vejo por que estender a inimizade aos autores deles. É algo de violência, de revanchismo, do mesmo tipo de raiva.
        Não estou dizendo que o ladrão seja um coitado, porque a sociedade o fez ladrão, ou algo parafrásico. Acho que somos responsáveis pelo que nós nos fazemos e também pelo que a sociedade nos faz, mas responsabilidade, no caso, implica em arcar com limitações, não com sofrimento, infelicidade e morte. Responsabilidade é deixar de fazer o mal, não deixar de receber o bem.

       E se você acha que o ladrão não tem correção, devo discordar fortemente, mas mesmo que você esteja certo, independente de merecer ou não, não é bom que o ladrão possa, além do assaltado, viver feliz? A morte do ladrão não faz bem ao assaltado, e sua prisão não faz mal ao assaltado. Ao que foi assaltado, depois que a polícia renda e prenda o ladrão, tanto faz o que acontece com ele. Ou tanto faria, se o assaltado não tivesse uma raiva vingativa. Qual é a real vantagem dessa raiva então, que só serve para condicionar o ladrão à punição? "Tem que morrer". Não, não tem. Ninguém o obriga a morrer, e se a prisão não o corrigir, isso é culpa da organização da prisão, não da sua existência. Se matarmos todos os ladrões, não atingiremos uma utopia sem ladrões. Talvez isso possa diminuir a quantidade de roubos, mas vai aumentar a quantidade de mortes. "As vidas desses bandidos são sujas". No meu conceito de justiça, toda vida é limpa o suficiente para merecer existir. Uma vida vale mais do que dinheiro, independente da vida. O ladrão pode sim ser feliz. Concordo que o assaltado tem prioridade, mas dado que o ladrão seja controlado, essa prioridade está garantida, desde que o ladrão seja mantido longe da sociedade até que esteja pronto para voltar

       Eu fico triste com como nossas prisões são mais cárceres do que reformatórios. Os egressos do sistema penal voltam a cometer crimes porque simplesmente colocá-lo numa caixa de ferro, exposto a organizações criminosas e pessoas que vivem bem descumprindo a lei dentro da cadeia, não vai fazê-lo entender que pode ser feliz sem aquilo. Estamos tristes na rua, tristes assaltando, tristes presos, e tristes longe disso tudo, porque a violência continua acontecendo. E podemos ser felizes sim, todos nós, criminosos e honestos. Não é uma questão de merecer, é uma questão, simplesmente, do que é melhor para todos. "É impossível agradar a todos". Concordo, mas quando essa frase for usada para nos desestimular de tentar, eu discordarei. A primeira prioridade, para mim, seria proteger a sociedade honesta, e por isso, se não podemos reformar o preso, que pelo menos o mantenha-os afastados do mundo. Mas eu tenho certeza que, se tortura e trabalhos forçados são punições cruéis, a morte é pior ainda. Faça-se um exercício social. Pergunte aos presos se preferem morrer ou viver trabalhando doze horas por dia, sendo mal alimentados, mas tendo um pouco de lazer.

        É muito mais cruel matar do que punir de uma forma não dispendiosa aos recursos de um estado. Se você não acha que o criminoso pode ser corrigido, permita-o viver se redimindo, mas viver. Sua raiva do assassino é uma raiva assassina, a mesma que ele sentiu quando se sentiu injustiçado, e por isso matou. Julgue o criminoso sem raiva, mas com a noção de que até a pessoa que lhe fez mais mal merece ser feliz. Todo mundo merece ser feliz. Nem todos merecem mordomias, regalias, tranquilidade, mas a vida, como um potencial de felicidade, é sempre melhor do que a morte.

        "Você não pode falar, porque nunca teve uma arma apontada para a sua cabeça". Isso significa que apenas quem tem raiva de criminosos pode opinar a respeito do destino deles? Isso é um apelo à parcialidade. É equivalente a dizer que só quem já foi pobre pode decidir o que os pobres merecem em termos de benefícios estatais, que só quem já foi agredido por negros pode decidir se eles merecem punições diferenciadas, que nenhum presidente pode governar, porque tem poder sobre coisas que nunca experimentou. Infelizmente, nossa sociedade se constrói de modo frio, indireto, imparcial, e não há outro modo de ser. É justamente por não ter essa raiva assassina de quem já foi assaltado que eu posso falar. E eu tenho certeza absoluta que, se uma arma fosse apontada para a minha cabeça, eu ia desejar que ela deixasse de estar, e não ia me importar com uma vingança fria sobre quem apontou, só ia querer que tudo ficasse bem para mim.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Desvendando tabus: viva a sinceridade, abaixo a intimidade!

"Não julgues para não ser julgado"

Por muito tempo essa mácula de ideia passeou pela mente dos homens. Fruto de insegurança! O que é o juízo de um homem para outro? Julgar é avaliar, e sem a avaliação, a vida seria vazia.

Não querer ser julgado é querer a pompa de definir-se bom ou mau independente dos resultados de suas ações. Não querer ser julgado é ter virtudes tão fracas que não as saberia defender. Porque temer as críticas, se você está certo? E se não está, como não querer que o digam?

Pois eu digo "julgue sempre, e esteja pronto para ser julgado". Teme os fascistas, os extremistas, os fanáticos? Deixa-os falar, e mais, estimula-os a falar. Quanto mais falarem, mais ouvirão, quanto mais ouvirem, mais pensarão. E se, enfim, estiverem errados, podem perceber isso de verdade.
Não use discursos de ódio, nem contra os odiosos, mas use sim seu poder de discordar, criticar e rotular.

"Não se importe com o que os outros pensam" me dizem, mas eu sou ridículo se não quero tomar banho ou cortar as unhas, independente do que os outros pensam. Se importe, sim, com o que os outros pensam, mas na medida em que isso fizer sentido para você, e em nada mais. Ficamos divididos entre seguir cegamente um juízo alheio ou ignorar cegamente o juízo alheio.

Abra os olhos, ouça com humildade, ponha o juízo alheio em luta justa com o seu próprio, e honre o vencedor. Mas lembre-se que quem determina o vencedor é você. Quando mais sua ideia for criticada, mais ouça as críticas. Se for mesmo uma boa ideia sobreviverá a todas. Não alimente insegurança com o que pensa nem medo do que dizem. Seja humilde em abrir mão do que pensa em favor do que pensa o outro. A identidade do pensar será sempre sua, mesmo que venha de outra pessoa. Não acredite na primeira coisa que fizer sentido, há infinitas maneiras erradas de fazer sentido. Seja cético, que tudo é criticável.

Eu digo, então: "Use, como ferramenta, o que os outros pensam".





"E tem que pedir?"

Ouvi isso certa vez de um homem que ralhava comigo e com meus amigos, porque estávamos sentados "no lugar errado", ou seja, no assento preferencial do ônibus. Ele dizia isso em defesa de uma mulher, que não estava grávida nem com criança de colo, não era idosa ou deficiente, mas era de meia-idade. A mulher ficou mais sem-graça com a exposição do que satisfeita.  Obviamente eu disse que ela não tinha preferência, pois não se enquadrava na mobilidade reduzida, mas que se ela quisesse sentar, ela mesma podia pedir. A resposta, marcada por um tom de indignação com uma desfeita minha, foi "e tem que pedir?"

Esse raciocínio eu levo para a vida: tudo o que não está pré-determinado tem de ser pedido. Por que? Porque como seres humanos, temos vontades. E se nossas vontades entram em conflito, temos de discutir. Nosso poder de diálogo é um dos motivos pelos quais podemos nos dar ao luxo de ter desejos. Recentemente quase perdi uma amizade por causa de um mal entendido que não vieram resolver comigo. Seria a segunda ou terceira que perco assim. Se você tem algo contra mim, me diga! Se eu me ofender porque você pensa algo de mim, eu é que estou errado. Ninguém deveria se ofender com a verdade. Se você estiver errado, eu vou lhe dizer. Eu sei que as pessoas me julgam, acabei de escrever neste post que julgar é correto. E se alguém me julga de uma forma que não acho que sou, eu quero saber.

Se você me fizer um pedido completamente absurdo, como "Gui, você poderia por favor cometer suicídio?", eu vou simplesmente responder "não, porquê?". Você não me ofende perguntando. Não me ofende nem desejando minha morte. Se você é um amigo íntimo, isso talvez muda minha opinião sobre você, mas não me ofende. E se você quer que eu me mate e não me diz, você está omitindo quem é. Há um aspecto de você que você não pode me mostrar, por medo de ser julgado. Novamente, julgue sempre, e esteja pronto para ser julgado. Se você me odeia, me diga. Se quer que eu me mate, me peça. Reservo, também, o direito de dizer não. Aí entram os acordos de um relacionamento. Tem pedidos aos quais não podemos dizer não, que são na verdade ordens. As ordens tem de vir pré-estabelecidas em contratos, em relacionamentos amigáveis ou judiciais. O que não está pré-estabelecido como ordem, ou obrigação, pode sempre ser pedido, e quem recebeu o pedido tem pleno direito de dizer "sim" ou "não", sem poder ser reprimido por qualquer resposta que der. Acabo de compor uma quadrinha sobre isso:

O que não está no acordo da relação
Pré-estabelecido como obrigação
Pode ser pedido, aceito ou negado.

Isso é um direito sagrado

De fato, nossa sociedade tem um bloqueio com o pedido. Pedir é um ato de oportunismo egoísta. Novamente, fruto de insegurança! Do que temos medo? De abusar da boa-vontade de alguém? Se a boa-vontade é minha, eu é que tenho que me policiar para não tê-la abusada. Não existe "abusar da boa vontade de alguém", existe "deixar abusarem da sua vontade, da má-vontade mesmo". Abuso é violência, e não existe violência consensual. Se você se sente pressionado pelos pedidos, é porque não está exercendo seu inalienável direito de dizer "não". E se alguém, sem perceber isso, está lhe pedindo, é simplesmente porque quer, e não supõe que seja problema para você. 

É claro que existe a coerção, na qual você sabe que a pessoa não dirá não, mesmo podendo e querendo, e abusa dessa fraqueza. Isso é errado, e é culpa do abusador, mas também é culpa, indiretamente, do coagido (a menos que seja alguém que tem naturalmente essa fraqueza, como uma criança ou um deficiente mental).


Resumindo o post com uma visão de mundo: eu acredito em um mundo onde se dê a cara para bater, onde você diga às pessoas o que pensa delas, e elas estejam prontas para que você diga o que pensa. Talvez não na mesma hora em que pensar, mas depois de refletir e ter certeza de que não está sendo precipitado. Um mundo onde a sinceridade seja uma verdadeira virtude e a intimidade seja um defeito. Não a sinceridade dos fatos, mas a dos defeitos. Não sou contra a mentira, sou contra a omissão prolongada e a vergonha. E também não a intimidade do individualismo, mas a do segredo e do egoísmo. Um mundo sem falsas amizades, fracas amizades, ou casamentos idílicos que acabam porque as pessoas percebem que não se conheciam realmente. Um mundo de livros abertos, porque é sendo um livro aberto que você é lido, e sendo um livro fechado, você será julgado pela capa.